terça-feira, 13 de abril de 2010

Nem Deuz aceitou Rê Bordosa
















- Meu Deus!! O que aconteceu ontem à noite? Não lembro de nada!
Droga! É toda vez a mesma coisa. Acordo em banheiros que nunca vi em toda minha vida. Antes tivesse mesmo morrido.
BASTA!! Vou pra casa. Opa! Só uma coisa estou achando estranha... Que zuada de ônibus é essa? Nossa! De onde saiu tanta gente? Putz deve ser feira de bebidas, vou tentar uma mostra grátis.
- Rê Bordosa!? É você mesmo? Tu não morreste?
- Pô! Do jeito que isso tá o caos, deve ser o caminho do inferno. Aproveitando meu jovem. Você é o guia dessa birosca, onde é que tá rolando a orgia?
- Que é isso ‘Rê’! Esse é o terminal de ônibus da Praia Grande!
- Desculpa minha jovem você está acompanhando este rapaz? Pode ser uma suruba?
- Deixa disso Rê Bordosa. Ela é minha namorada. Mas o que é que tu fazes aqui. No terminal de ônibus, em São Luís?
- Meu jovem me diga? Qual é o seu nome?
-Bruno.
- E o dela?
- Poliana.
-Pois então meninos essa é a última coisa que lembro destas últimas horas. Na verdade só lembro do anjo me levando ao paraíso, eu me joguei oras. Lá não tem vodca....
Sim! É verdade! Depois de 20 anos de sua morte Rê Bordosa reaparece milagrosamente em São Luís. A mais famosa junkie do Brasil nasceu na década de 80; morou no centro de São Paulo e levou uma vida regada a sexo e muito álcool. Morreu em 1987 e ao que tudo indica, vagou nestes últimos 20 anos no purgatório, de onde foi expulsa por não conseguir expiar seus pecados. Rê bordosa foi abençoada com a misericórdia divina, do alto dos céus lhe foi enviando um anjo para arrebatar a sua alma perdida. No meio do caminho entre o céu e o inferno Rê bordosa desiste da vida celestial e se atira ao mar.
-- Aceita uma água de coco Rê Bordoso?
- Água de coco? Só se for com vodca!
Entre um gole e outro Rê Bordosa começa a lembrar o que aconteceu durante a noite em São Luís.
“De cara encontrei um lugar mal-cheiroso, um bar dos bons”, disse ela nos contando sobre sua chegada na ilha. O bar que Rê Bordosa encontra fica logo no cais, conhecido como “Bar canal’ ou simplesmente “Bacanal”, o bar foi o lugar ideal para dar boas-vindas a junkie.
“Não acredito estou de volta a vida mundana”. De repente surge o paraíso a sua frente: “Bar, um bar”, estou em casa! Alô Papai, alô mamãe!“, alegria tamanha de Rê Bordosa. Avistar uma ilha cheia de prazeres fez Rê Bordosa se sentir novamente a puta velha de sempre.
Enquanto a bebida rolava Rê Bordosa nos contava seu flerte com bilhetinhos ao garçom, “É esse meu maldito fetiche por garçons, um já desgraçou minha vida e eu nunca aprendo”
Depois de doses e doses de vodca Rê Bordosa nos revelou ter proposto uma rapidinha com o garçom que a recusou. Entediada com o bar repleto de casais, ninguém aceitou um convite seu para uma suruba. ”Já tava um saco, foi quando escutei uma turma dizendo que ia comer o Sousa! Pow já tava aceitando de tudo, me animei para comer esse tal de Sousa também. Chegando lá, passei meia hora em pé, esperando pra comer o Sousa, quando já não agüentava mais...”.
- Aqui está o seu cachorro-quente, disse a garçonete.
-cachorro quente?? , falei alto.
Foi ai que Rê Bordosa percebeu o quanto seu apetite sexual lhe deixava confusa. Tentando se consolar, pergunta:
- E vocês tem vodca??
Não só Jesus.
- Meu Deus, bebida santa? Eu quero.
Rê Bordosa
Ela sai desanimada, sem rumo segue as ruas e praças do centro histórico de São Luís. “ Ninguém me ama, ninguém me quer”.
- Que merda de vida daria tudo! Daria tudo por uma dose de vodca e uma banheirinha.
A saga de Rê Bordosa, segue os rumos da Praia Grande. Durante sua fala ela se mostra meio decepcionada com algumas figuras muito próximas, os hippies. Ela disse que no caminho encontrou um grupo de hippies, “a galera é gente boa, de cara não reconhece, se não fosse aqueles pés sujos inconfundíveis. Perguntei se eles conheciam o Wood, velho amigo, parceiro de copo e de algumas noites”. Rê bordosa aproveitou para puxar um fumo, “e não era orégano não, era cannabis da boa”. Segundo Rê Bordosa, eles não lembraram do Wood, mas pouco importava o fogo nas suas pernas já a enlouquecia. “Cara é muita piração, ofereci uma transa e eles nem aí! Como é que pode? Isso não é do meu tempo. Eles disseram que agora só com amor”.
Simpática, Rê Bordosa leva de lembrança dos seus amigos hippies, um anel feito na hora. E eles nem cobraram para ‘juntar para o café’.
A situação já estava extrema, Rê Bordosa nos diz que enquanto andava escutou umas batidas estranhas. Um som de tambor, “o som era frenético, não parava fui lá pra ver. Podia ser aquelas festas que eu não sei muito bem, mas que tem sempre uma cachaça pro Santo, sacou?”. Ela fica surpresa quando se depara com aquilo era um tambor de crioula, rodeada de gente esquisita, “pô, tinha uma galera branca, alta tudo de olho claro com cara de mal comido. Nunca fui muito boa de geografia, mas tambor não é lá pras bandas da África? E eles ainda falavam um monte de língua, inglês, espanhol, franceses”. Rê Bordosa só consegue entender o que acontece quando encontra Dona Faustina, famosa no Centro histórico, possui um bar onde há alguns anos era um conhecido bordel. Dona Faustina explica que aqueles eram turistas que passavam por ali.
Depois de dois dedos de prosa com a Dona Faustina, Rê Bordosa segue o caminho e conta que não muito longe avistou um bar com um nome francês ‘Chez Moi’, “Francês! Humm! Eles gostam de um sexo grupal e com um bom vinho então... aí que delícia!”.
Rê Bordosa entra no bar e encontra um ambiente muito colorido, paredes verdes, laranjas e com assinaturas de quem freqüentava; as mesas também pintadas e de fato o que a agradou foi a nuvem de fumaça dos cigarros, mas ela conseguiu achar o balcão.
- Eu sou uma mulher afogada num poço de necessidades. Garçom me coma?
- Sinto muito, mas não quero comê-la.
- Então... me beba!?
A loucura de Rê Bordosa deixa o garçom sem jeito. Mais comedida ela pergunta o que tem para beber e o garçom responde que só ‘batida de pinga’, “porra! Batida de pinga! Meu Deus que coisa mais pobre! Isso é bebida de estudante direito e dos comunicadores metidos a intelectuais”, conta Rê Bordosa com aquela cara de quem bebeu e apesar de tudo, gostou. É prova que ela acaba deixando escapar que bebeu um litro de cada sabor.
Saciada a sede, ela resolveu partir para o ataque, daí acabou perguntando ao garçom onde é que tava os homens. Ele indicou um salão onde rolava um show. Ela saiu toda animada. Quando abriu o salão, a triste surpresa: “putz! Era só guri. Cadê os homens de verdade? Já to queimando as beiradas”. A decepção cede espaço para a observação interessante que ela fez e nos contou: “eu não sei por que tinha tanta gente conversando no celular ao mesmo tempo, será que era por causa do som? Ei! Não saquei por que esses meninos se juntavam sempre de dois ou mais para ficar tirando foto”. Isso nos levou alguns minutos de conversa para tentar esclarecer essa dúvida para a Rê Bordosa, mas não vem a calhar esses detalhes.
Ainda persistente RÊ Bordosa sai do bar e vai tenta a sorte. Ao sair do Chez Moi, ela embarra com uma turma, “bicho eles eram do metal, saca? Bateu logo um tesão! Aquelas roupas pretas, rasgadas, cabeludos, barba mal feita, umas tatuagens. Perguntei logo se eles tinham uma vodca. E eles me ofereceram São Braz. Puta merda! Bebida de Santo de novo não! Perguntei se eles não sabiam onde tinha bebida de verdade. E daí me ensinaram como chegar no Batista”.
[O Bar do Batista fica já na parte alta do Centro Histórico, a área conhecida como Desterro. O bar vende cachaça temperada e conservada com frutas, tem pra mais de trinta sabores. É um dos pontos bem conhecidos do centro histórico, fica bem próximo do Convento das mercês].
Enquanto sobe as ladeiras, Rê Bordosa conta um pouco do que viu “era um pouco diferente de onde eu tava, era mais escuro, um cheiro que não era mais de pizza nem de cachorro quente; era de pinga e cachaça da forte, o negócio parecia que ia animar”. Pedimos-nos para que ela descrevesse um pouquinho o lugar por onde ela passava, “tinha um boteco, dois homens bebem sem pressa cerveja barata. Uma mulher suja e embriagada dormia no batente de uma porta, porra acho que era colega de porre. Do lado, sentados, dois homens.
Rê Bordosa finalmente chega ao batista, ela lembra como foi bom vê tanta cachaça empilhada, “era muita cachaça, tinha uns baldes pendurados, acho que era quando vomitasse. Provei cada sabor, abacaxi, pêssego, carambola, dessa eu não vou esquecer”.
Essa parecia a redenção de Rê Bordosa foi tanta cachaça boa que ela disse quase não no rapaz do balcão que estava ao seu lado, foi só o tempo de olhar, “nossa! O homem era o dobro do meu tamanho, forte, falava grosso perguntei que cheiro forte era aquele, e ele disse que acabava de vim do trabalho no portinho”. Nas palavras de Rê Bordosa achamos que ela finalmente se encontrou. “Não demorou muito o cara ficou na minha e me convidou para ir tomar umas no xirizal, um tal de inferninho que ficava logo ali. Putz finalmente um convite que preste. Era agora que a porra louca ia se dá de bem”.
Em pouco tempo Rê Bordosa nos conta que já era dona do pedaço, foi um cegada triunfal. Era baseado aceso, brega, funk rolando, cheiro de sexo no ar... nada mais propicio para uma batida policial. Flagrante na certa. “Foi só ouvir o som da sirene a turma se mandou. Putz tive que me arruma logo, sair em disparada não sabia pra onde ir mesmo tava sozinha”, conta recolhendo o fôlego.
Rê Bordosa diz que encontrou uma praça e sentou para descansar da correria. Quando sentou ela encontrou um cara que ela disse ser bem ‘figuraça’, “ele tinha o cabelo mais junkie que o meu, uma barbicha da hora, um charme com o guarda chuva, só que ele nem me olhou! Ele tava era lendo um livro. Não sei o que era, acho que alguma coisa com poesia e filosofia”. RÊ Bordosa aproveitou e lhe pediu ajuda e disse o que acabara de acontecer, foi quando a figura se apresentou, o seu nome era Máximo, pessoa muita querida, anda muito pela UFMA e pelas ruas do centro histórico recitando sua poesias.
“Quando eu disse pra ele o que tinha acontecido comigo, ele veio me ditar uns mandamentos da bíblia. Não lembro de nada. Daí ele me levou para andar e começou a contar umas histórias. Com toda malicia de uma verdadeira junkie, perguntei se ele não me levaria para um lugar mais reservado”. Rê Bordosa se perde um pouco nos seus pensamentos, mas retoma com uns ‘amaços’ que deu em um dos becos, “putz depois desses pegas não sei de mais nada, já tava aqui no banheiro desse terminal. Putz, daí encontrei vocês”, diz Rê Bordosa.


Por: Poliana Sales e Alexandre Bruno

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