sábado, 17 de abril de 2010

A importância da loucura




Como a definição de loucura pode esta além de um conceito discriminatório e torna-se uma nova forma de enxergar o mundo.

Salvador Dali, um dos maiores pintores e representante do movimento surrealista, incorporou a idéia de loucura como transgressão das normas vigentes, e a quebra dos tabus. Dali que nasceu no início do século XX e fez das excentricidades e declarações provocadoras uma forma de torna-se uma das mais polêmicas figuras da arte contemporânea. A sua loucura não impediu que sua obra fosse reconhecida como uma das mais audaciosas e apuradas da pintura surrealista.
Dentro do quadro surrealista as obras representam as manifestações do subconsciente, absurdos e lógicos, como as imagens dos sons das alucinações, que produzem as criações artísticas mais interessantes. A loucura de Dali não pode ser considerada distúrbio mental, mas sim, quando ele se propõe como gênio. A importância de sua loucura é a genialidade de suas obras. Tal genialidade traz dificuldades de posicionamento no mundo. O contexto que o define como louco é o mesmo que Dali insiste em transgredir. Melhor deixar que suas palavras o defendam: “É um herói aquele que se revolta contra a autoridade paternal e vence”, escreve Dali em seu Diário de um Gênio.
A loucura era proposta por Dali como outra forma de se posicionar no mundo. A intenção foi clara, confundi, cretinizar e corromper. Mistificar para mitificar. Conseguiu!

Quem me chamou de louco?



É importante a diferenciação dos níveis de comportamento social, para que possamos identificar os interesses em dizer quem é ou não é louco. No que diz respeito aos interesses econômicos, pode-se afirmar que a prática da psiquiatria tradicional, que isola os indivíduos nos hospitais e clinica por meio de remédios, custa ao Sistema Único de Saúde 450 milhões de reais por ano e incentiva o pesado investimento da indústria farmacêutica no setor. 500 milhões de reais por ano são gastos com saúde mental, e 90% dessa verba vão para os hospitais psiquiátricos particulares, dados da Universidade de Bauru-SP.
Em relação aos interesses políticos e ideológicos, Duarte Junior em Política da Loucura, afirma, “A psiquiatria nada mais é do que uma forma de polícia que pune e encarcera aqueles indivíduos considerados improdutivos pelo sistema capitalista-industrialista de nossas sociedades. Como estar louco significa não aceitar uma determinada ordem de funcionamento das coisas, o louco é afastado do convívio dos homens” normais. Para que não atrapalhe a sua produtividade. Para que não gere conflitos indesejáveis ao “sistema”. Para que, inclusive, não comece a gerar duvidas nas cabeças dos outros homens sobre a pretensa racionalidade do mundo”.
A própria Organização Mundial da Saúde alerta que a saúde mental deve ser tratada de forma diferenciada nos próximos anos, visto o crescente números de pessoas que vem apresentando transtornos mentais frente às transformações que a sociedade esta enfrentando. Desta forma, vale colocar de que forma a psiquiatria evolui ao longo do tempo, e se na atualidade ela consegue permitir o convívio entre as diferenças da melhor maneira possível.

Quem é normal?
Se Salvador Dali viveu ativamente sua produção artística, hoje, como ele seria visto? Será que ainda seria rotulado de louco? Ainda, segundo os teóricos da antipsiquiatria, sanidade e insanidade apresentam fronteiras muito sutis, muito próximas, uma vez que ambas refletem a busca do situar-se no mundo e envolvem os riscos da busca pela inovação e pela transgressão.
Dali, com toda sua genialidade, com certeza seria percebido nos dias atuais. Mas o rotulo de louco deve ser relativizado. Na época de Dali a sociedade era muito mais rígida, negava qualquer possibilidade da quebra dos seus tabus. A loucura que na época tinha cunho depreciativo do seu estado mental, hoje “frente ao contexto mundial somos todos loucos na medida em que não existe uma aparente racionalidade no mundo em que estamos construindo”, palavras de Sueli Terezinha professora da Faculdade de Psicologia da UNESP. As novas concepções de homem, mundo, sociedade e doença são responsáveis pela compreensão de que o modo peculiar da existência de um individuo é, basicamente, fruto das relações entre eles e os grupos sociais a que pertence.



Contudo, é relevante o estudo da psiquiatria em relação às doenças mentais já que esta permite entender os sintomas das psicoses e seu devido tratamento. Desta forma, seja qual for a natureza da doença mental, não há justificativa para alijar, para o isolamento e para os atos de tortura praticados contra os indivíduos internados por terem um modo de ser e compreender o mundo diferente. Modo esse, não compreendido e desrespeitado pelos “normais”.
Dali não se enquadrava e não se enquadraria no que Laing, psiquiatra sul africano, entende por normalidade que é o individuo que se adapta ao conjunto de normas e regras da sociedade. Assim, a importância da loucura, constituída de genialidade, de Salvador Dali e que deve ser incorporada por nós, é tentativa de reflexão sobre as regras e convenções que nos são impostas. Ver a vida como algo além do que é dito.

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